sábado, 18 de maio de 2024

‘Dois papas’, filme da Netflix, revela que a humanidade é divina

Duas horas de diálogos profundos, de respirações interrompidas, de pequenas doses satíricas e bem-humoradas. Ao final, uma certeza: a humanidade é divina. Ou quase isso. Deus é extremamente humano. E se revela nos pequenos prazeres, nos abismos espirituais, nos arrependimentos do passado, nas profundezas da oração. Dois papas, filme dirigido pelo brasileiro Fernando Meirelles, lançado neste fim de semana no Netflix, narra o embate ideológico entre Bento XVI (Anthony Hopkins), ainda hoje papa emérito, e o então cardeal Jorge Bergoglio (Jonathan Pryce), atualmente o papa Francisco.

Sabemos que um filme de ficção imagina diversas situações e diálogos. Muitos deles, fundamentados na realidade. Outros, inventados. Assim como algumas cenas. Entretanto, o filme Dois papas é mais do que um diálogo entre duas autoridades eclesiásticas. Alguns dos quais, nem existiram. É, antes de tudo, o retrato de uma realidade vivida por uma instituição milenar e que está processando uma transformação profunda, porém demorada. Como todas são.

Anthony Hopkins e Jonathan Pryce concorrem ao Globo de Ouro (Foto: Divulgação)

Alguns dizem que a direção de Fernando Meirelles cria uma dicotomia ideológica entre o conservadorismo católico e uma linha mais progressista, representada pelo novo, por Francisco, e que, ao final, vence. Talvez assim o seja, já que o diretor se diz não cristão ou não católico, o que o faz ter uma visão de fora. Mesmo assim, prefiro a tese que valoriza a humanidade dos personagens, idealizados como santos ou, até mesmo, cobrados dessa forma por mais de 1,2 bilhão de pessoas que professam a mesma fé ao redor do mundo.  

O enredo perpassa por algumas das grandes questões da Igreja Católica no século XXI: corrupção, Cúria Romana, pedofilia, visão sobre a homossexualidade e o casamento de sacerdotes. Aspectos que, pouco a pouco, estão sendo discutidos e tabus que estão sendo quebrados.

Ademais, o filme é impecável. Eu mudaria apenas uma música de lugar: tiraria a trilha sonora de Abba do início do filme e a colocaria na eleição de Francisco. Aparte isso, o longa está bem cotado no Globo de Ouro e para o Oscar. No primeiro, foi indicado em quatro categorias: Melhor filme de drama, Melhor ator de drama (Jonathan Pryce, que interpreta Francisco), Melhor ator coadjuvante (Anthony Hopkins, que interpreta Bento XVI) e Melhor roteiro.

Veja o trailer: