sábado, 04 de maio de 2024

Boca de Baco promove um verdadeiro reencontro do público com o teatro

Um reencontro entre amigos, regado a bons vinhos e excelentes memórias afetivas. Poderia ser qualquer um dos reencontros entre mim e meus amigos, não fosse um detalhe: o fato de que esse reencontro, especificamente, ter sido entre amigos atores do grupo Boca de Baco, que trintou em grande estilo e resultou em um espetáculo delicioso de assistir. Mais que isso, Olhos nos Olhos matou a saudade que a gente estava de ir a um teatro, de ver atores em cena e de ouvir críticas e reflexões com entretenimento.

Talvez esse reencontro do Boca de Baco tenha despertado a necessidade de levar ao palco angústias pessoais, vivências e experiências, além da saudade dos palcos. Mas, diferentemente, de três décadas atrás, desta vez o reencontro tinha sangue novo. Ou melhor, vinho novo: Renato Forin, um dos mais novos expoentes do teatro pé-vermelho. Acostumado a escrever textos com referência à mitologia greco-romana, Forin entregou ao grupo um texto refinado e preciso, muito bem amarrado com as nuances particulares de alguns atores, lidos e interpretados no enredo.

Não dá vontade de brindar junto com eles? (Foto: Fábio Alcover/Divulgação)

Reinaldo Zanardi é um deles, por exemplo. Levou às cenas muito de sua vida pessoal. Quem o conhece consegue identificar alguns desses elementos. Eu consegui perceber muito de suas contribuições pessoais, lutas diárias e militâncias. Confesso que, desde que fui seu aluno nos idos do início dos anos 2000, sempre quis vê-lo em cena. Ainda mais depois de tê-lo entrevistado sobre o próprio Boca de Baco para o finado Jornal de Londrina. E que orgulho vê-lo atuar. Uma atuação firme, ironicamente bem-humorada e leve, nos momentos em que precisa sê-lo.

Essas experiências pessoais enriquecem o texto. Também as vi em Jack Seglin e Silvia França, duas outras atrizes das quais sei um pouquinho da trajetória. Assim, a interpretação ganha mais vida ainda, mostram-se emocionantes, ofegantes. Tao envolvente a ponto de a gente quase que se sentir parte do elenco. Em alguns momentos, principalmente, os de brinde e de palmas entre os atores, fui tentado a brindar e aplaudir junto. Tive de me segurar para não fazê-lo. E só percebi quando o deslize estava quase completo.

Ao mesmo tempo, as entrelinhas estão recheadas de críticas, fazendo o teatro cumprir seu papel de entreter, refletir e questionar. Fiquei feliz de ver a casa cheia, em pleno domingo. Nós precisamos de teatros como o Boca de Baco. Nós precisamos de mais Boca de Baco. Quando vai ser o próximo espetáculo? Para quem não assistiu, ainda dá tempo. No próximo fim de semana, a temporada será de sexta a domingo (20 a 22), sempre às 20h, na Usina Cultural (Av. Duque de Caxias, 4159), com ingressos a R$ 20, vendidos na plataforma Sympla.

Leia a reportagem sobre a estreia.