quarta-feira, 15 de maio de 2024

Das obras às passarelas: Pedreiro Model conta como superou timidez e depressão e faz sucesso na internet

Francisco Albuquerque, o Pedreiro Modelo (Produtora: Imakers/
Produção e Fotos: Júnior Costa e Yuri Henning)

A infância humilde e o corpo fora do padrão sempre foram obstáculos para Francisco Albuquerque. Não foi fácil vencer a timidez nem sair da depressão que o acometeu já na vida adulta. Não era, necessariamente, uma questão financeira. Mas, sobretudo, de (auto)aceitação. Dos outros e de si mesmo. Depois de compreender a si próprio e usar as dificuldades como mola propulsora, o garoto loiro de olhos azuis estourou. Teve uma ajudinha da mão de Deus. Entretanto, as coisas começaram a ficar diferentes porque ele realmente correu atrás dos sonhos.

Francisco é conhecido hoje como Pedreiro Model, por uma brincadeira de uma menina que virou sua amiga. Esse empurrãozinho do destino o tornou conhecido na internet e o levou a ser agenciado na carreira de modelo. Ele quer mais. Sem se esquecer das origens ou do trabalho que o alçou ao sucesso – o de ajudante de pedreiro –, o garoto sonha em desfilar numa passarela internacional, mais especificamente a de Nova York. Além, é claro, de usar a sua história de superação para poder motivar outras pessoas a vencerem seus medos e desafios.

Extremamente humilde e simpático, o rapaz conversou comigo nessa entrevista exclusiva. Leia até o final e veja os detalhes dessa história inspiradora!

Conte um pouco da sua trajetória, o que fez da vida e como virou o “Pedreiro Model”?
Filho de diarista, fui criado sozinho com muita luta, mas, muito amor. E sempre tive saúde para correr atrás dos sonhos, então, me sinto privilegiado por tudo que passei. Fui uma criança tímida e muito solitária, minha mãe precisava trabalhar muito. Moramos de favor e de aluguel por muitos anos até ela conseguir construir nossa casa com um salário mínimo. Cheguei a tentar a carreira de modelo quando criança, mas, não tínhamos dinheiro, fui iludido por algumas agências e eu mesmo tinha uma baixa autoestima que me atrapalhava. Era dedicado na escola pública, depois cheguei a cursar três anos de Administração na Universidade Federal do Paraná (UFPR) e trabalhar em uma multinacional. Após sei anos nos escritórios, estava infeliz com o trabalho, entrei em depressão e pensei em tirar minha vida. Aí decidi reescrever minha história, tive vários empregos autônomos, estudei um ano de teatro e voltei a sonhar com a carreira de modelo. Já havia trabalhado como ajudante [de pedreiro] com 15 anos, ajudando em reformas em casa. E, durante a época dos escritórios, também fazia algum bico de vez em quando. Então, após a depressão, com 22 anos, resolvi voltar a ajudar meu padrasto nas obras, para me ajudar a emagrecer e ter flexibilidade na agenda para correr atrás do sonho de ser modelo. Aí passei a tirar fotos sozinho com o celular e postar nas redes sociais escrevendo textos motivacionais de superação. Hoje consegui contrato com uma agência séria e meu sonho é ser modelo internacional em Nova York, além de comunicador, inspirando pessoas a saírem da depressão e voltarem a sonhar. O apelido Pedreiro Model surgiu no meio do caminho. Uma noite estava numa balada, pedi pra um amigo tirar fotos minhas e comecei a fazer várias poses no meio da festa. Um grupo de meninas achou a cena divertida e nos chamaram pra conversar. Aí no meio do papo contei que era pedreiro e sonhava em ser modelo e uma das meninas, que hoje é minha amiga, me apelidou de Pedreiro Model. Gostei do nome e logo pegou nas redes sociais.

O Pedreiro Model quer desfilar em Nova York, além de inspirar outras pessoas (Ak Photograph/ Fotos: Ana Knapki/Produção: Pamela Vidal)

Quais foram os seus piores momentos de timidez e da depressão?
A timidez me atrapalhou muito até os 15 anos, deixei de viver muitas experiências na vida por ter baixa autoestima e não aceitar quem eu era. O pior não era a rejeição que eu sofria dos outros e, sim, a que eu tinha de mim mesmo. Isso me levou a chegar despreparado para a vida adulta. E foi aí que tive depressão, pois vivia tentando agradar aos outros e me cobrando demais para ser perfeito. O pior momento foi aos 22 anos quando cheguei a pensar em tirar minha própria vida. Mas, então, com ajuda da minha mãe, de uma psicóloga e de mim mesmo consegui superar esse momento e reescrever minha história. 

Conte histórias, momentos e exemplos de vezes em que você foi desacreditado por amigos, familiares e pessoas, em geral? O que elas diziam?
Felizmente em casa minha mãe sempre me apoiou, no começo ela acreditava mais que eu. Mas, a maioria das pessoas de fora, parentes, amigos e conhecidos diziam que a carreira artística era muito difícil, que eu já estava muito velho para recomeçar, que ninguém ia me levar a sério postando fotos sujo de cimento, que eu precisava ser mais profissional, postar fotos mais bem arrumado para ser modelo. Mas, algumas pessoas também apoiavam e já viam que eu tinha talento. Porém, escolhi seguir meu coração e hoje em dia os jornais e meu trabalho falam por si mesmos.

Qual teu grande sonho?
Ir para Nova York e desfilar em uma passarela com as roupas que uso na obra, cheias de cimento, pois, é com o dinheiro da obra que sobrevivo e invisto na minha carreira. E quero que mais pessoas que, independentemente do seu trabalho ou da roupa que usam, sintam que podem andar de cabeça erguida. Para, junto com isso, inspirar mais pessoas a saírem da depressão e buscarem seus sonhos. Também desejo melhorar minha vida e da minha mãe, não quero ser milionário nem famoso. Apenas ter dinheiro suficiente pra não se preocupar com boletos no fim do mês.

(Produtora: Imakers/
Produção e Fotos: Júnior Costa e Yuri Henning)

Quais os desafios que você ainda enfrenta hoje, na sua vida, para alcançar seus objetivos?
Problemas financeiros, em casa todos nós somos autônomos. Minha mãe, que é diarista, ficou vários dias sem conseguir trabalho, meu padrasto também está com menos serviço e, consequentemente, eu, que ajudo ele na obra, também estou. A construção civil, apesar de não ter parado, começou a ser afetada pela pandemia, as pessoas estão investindo menos em construção. E os trabalhos artísticos também estão parados. [Outro desafio é] manter o corpo definido para ser modelo. Durante a infância, cresci na casa dos outros e minha mãe não podia comprar muita coisa, então, por muitos anos tive problema com comida. Para compensar as faltas da infância acabava comendo demais. [Além disso,] aprender um novo idioma também é um desafio que estou enfrentando, apesar de ter facilidade com o inglês, ainda preciso estudar muito. Mas, esse ano ganhei uma bolsa de estudos integral, então agora é só continuar me dedicando. E, apesar de todos os desafios, foi o que escolhi enfrentar em busca do meu sonho. Então, a cada dia tenho mais força de vontade de dar o meu melhor para chegar lá.

Que legado você quer construir?
Que, independentemente, da situação de vida, todo mundo pode começar ou recomeçar a sonhar. Que todos podemos buscar ser nossa melhor versão a cada dia.

E se hoje alguém te contratasse para alguma obra, você iria?
Sim, inclusive, continuo ainda ajudando meu padrasto. E, mesmo quando eu for modelo internacional, se for preciso, eu farei trabalhos braçais fora do país, minha mãe me ensinou a me virar na vida e ter orgulho de qualquer trabalho. 

Diga algo que queira e eu não tenha perguntado!
Obrigado pela oportunidade desta entrevista. Hoje em dia, apesar de todas as dificuldades, recebo todos os dias mensagens de pessoas que acompanham minha história e estão se inspirando a sair da depressão ou voltando a sonhar. Isso pra mim já é uma grande vitória. E, apesar de todas as dificuldades, hoje conto com o apoio de muitas pessoas que me acompanham. E de alguns parceiros de negócios que me ajudam a construir essa trajetória. Sou assessorado como modelo pela agência e produtora Imakers Management, de Curitiba, e tenho apoio de assessoria de imprensa da Agência Descomplica, que ajuda minha mensagem a chegar ainda mais longe.

(Produtora: Imakers/
Produção e Fotos: Júnior Costa e Yuri Henning)